Portugal atravessa a pior seca dos últimos 100 anos ou, sendo mais exato, desde que há registos deste indicador no país. Praticamente todo o território se encontra em estado de seca severa ou extrema e são crescentes os casos de municípios que se veem obrigados a racionar o abastecimento de água.
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É impossível negar que atravessamos uma situação de emergência, que terá tendência para se agravar nos próximos anos, decorrente das alterações climáticas sentidas em todo o planeta.
Por isso, é imperativo que o país tome, desde já, medidas decisivas para minorar as consequências da crescente escassez de água potável. Na verdade, atuar hoje é já atuar tardiamente.
Ninguém pode afirmar-se surpreso pelo atual cenário, previsto e anunciado há vários anos por climatólogos e ambientalistas. No entanto, em Portugal dedicamos esse período a debates intermináveis, ao invés de avançarmos com soluções concretas.
Veja-se o caso das centrais de dessalinização. Enquanto em Espanha, com condições geográficas similares às do nosso país, estão em funcionamento 68 grandes centrais de dessalinização de água do mar e o Governo se prepara para investir mais de 200 milhões de euros no aumento da sua capacidade de produção, em Portugal discute-se há meses a localização exata daquela que será apenas a segunda central do país.
Um investimento de 45 milhões, com financiamento garantido pelo PRR, a futura central de dessalinização do Algarve dará resposta a 10% das necessidades da região, a partir do final de 2025, no melhor dos cenários. E, contudo, ainda nos encontramos a debater em que município ficará instalada.
Não podemos repetir neste dossier os erros cometidos e as décadas despendidas no processo de decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa. Particularmente quando estudos indicam que Portugal necessitará não de uma, mas de seis novas centrais de dessalinização, para responder às necessidades de água potável.
É a sobrevivência do próprio país que está em causa.
*Reitor da Universidade do Porto