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A Grécia aprovou um projeto de lei que legaliza a semana de seis dias de laboração, a acumulação de dois empregos, até 13 horas por dia e 78 por semana, e o despedimento, sem qualquer aviso ou compensação, durante o primeiro ano de trabalho. O diploma, validado no Parlamento pela maioria conservadora da Nova Democracia, está a provocar forte contestação nas ruas contra a “escravatura moderna”. Num momento em que a semana de quatro dias está a ser testada em vários países e a conciliação entre as esferas profissional e pessoal é cada vez mais uma premissa indispensável ao bem-estar dos indivíduos e à produtividade das organizações, este é um sinal - mais um e deveras preocupante - de que os avanços civilizacionais não estão garantidos. Nem na Europa.
Segundo dados recentes do Eurostat, a Grécia é um dos países onde as jornadas de trabalho são mais longas: 39,7 horas por semana em 2022, quando a média da União Europeia era de 36,2 horas. Por cá, também se labora mais do que a média europeia (37,9 horas). Não surpreendentemente é nos estados mais ricos que os horários são menos penosos para os trabalhadores, com destaque para os Países Baixos (32,4 horas).
A glorificação do excesso de trabalho, que se traduz num presentismo entrópico ou num “workaholismo” disfuncional, está a levar milhões ao colapso. Um estudo, realizado pelo Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis, revela que 80% dos trabalhadores portugueses apresentam pelo menos um sintoma de burnout, nomeadamente tristeza, irritabilidade, exaustão e cansaço extremo. As longas jornadas laborais são um dos principais fatores de risco, mas há outros, como o estilo de liderança e a falta de valorização e de recursos. E na realidade pós-pandémica já se cunhou outro termo, primo do esgotamento: “rust out” (enferrujar, numa tradução livre) para designar quem se sente apático e desinspirado perante tarefas monótonas e pouco estimulantes.
A imagem de Esther Crawford, braço-direito de Elon Musk no Twitter (agora X) entretanto demitida, a dormir no chão do escritório viralizou no ano passado como símbolo da “cultura extremamente hardcore do trabalho”. Talvez um prenúncio da moderna escravatura.