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Entre os mais de cinquenta mil jovens que este mês chegam pela primeira vez às universidades e aos politécnicos nacionais, a maioria vem legitimamente carregada de sonhos, esperanças e expectativas. Nisto empenharam já anos de dedicação e estudo, aos quais se somarão doravante novos e ainda maiores investimentos, sobretudo nos casos em que a aposta numa qualificação superior implica a deslocação para as principais cidades do país.
Num país íntegro e ambicioso, o normal (e expectável) seria que a este esforço dos estudantes e das suas famílias na formação e no mérito correspondesse o reconhecimento das instituições e das empresas, e, consequentemente, também uma recompensa adequada. Para ser ainda mais claro: a formação superior e o mérito têm de ser pagos de forma justa, sob pena de os atuais e futuros licenciados continuarem a ser empurrados para a emigração por ordenados de mil euros, pouco acima do salário mínimo nacional e que não permitem hoje fazer face aos custos inerentes ao início de uma vida autónoma e emancipada.
Entre nós, porém, a normalidade está muito longe de ser um facto consumado, ao que acresce a iniludível sensação de que a intervenção do Estado nestas matérias parece somente destinada a criar uma cortina de propaganda com muito escasso efeito prático. Agora como antes, não será com uma irrisória redução do IRS que se conseguirá evitar que os jovens mais qualificados fujam para países onde podem ver o seu mérito reconhecido e chegar a auferir o dobro do salário a que podem aspirar entre nós. Do mesmo modo, só um iníquo exercício de ilusionismo poderá pretender levar alguém a acreditar que a diminuição do IRC terá como consequência o investimento na capacitação das empresas e nos salários dos trabalhadores.
Sem o efetivo reconhecimento da decisiva importância da formação superior para a capacitação da economia nacional, medidas como aquelas assemelham-se a lânguidas esmolas e constituem, antes de tudo, um modo pouco elegante de menosprezar a inteligência daqueles de quem se espera que ajudem a reinventar o nosso futuro coletivo.