Corpo do artigo
A discussão que conduziu à queda do Governo centrou-se na figura de Luís Montenegro. Este Executivo, tal como o anterior, de António Costa, não foi vítima de políticas mal aplicadas. Um ano é pouco tempo para perceber se a estratégia para o país é a melhor. O problema foi mesmo o caso que envolve o primeiro-ministro, relacionado com a empresa Spinumviva, que detinha até há pouco tempo, ao ponto de a Oposição questionar a exclusividade do chefe de Governo na função. A controvérsia está para durar, nem as eleições travarão a necessidade de um esclarecimento cabal da situação. Como se impõe, aliás. Num tempo de desconfiança, tantas vezes injusta, em relação aos políticos, é preciso que não restem dúvidas. Gostem ou não, a melhor forma de defenderem o regime é serem absolutamente transparentes. Que ninguém vacile, porque os extremistas, inimigos da democracia, alimentam-se da descredibilização. É curioso verificar que, ao contrário do que acontece com Luís Montenegro, a segunda figura do Estado, José Pedro Aguiar-Branco, já fez questão de mostrar ao país que não desempenha funções em exclusividade. Ou, no mínimo, exerce-as mal. O presidente da Assembleia da República (AR), reunido com outros militantes de relevo do PSD, surpreendeu ao afirmar que Pedro Nuno Santos fez pior à democracia em seis dias do que André Ventura em seis anos. Mais absurdo do que isto só mesmo perder tempo a tentar contrariar o líder da AR, cargo que ocupará até quinta-feira. Depois de ter deixado o Parlamento resvalar para uma espécie de sala de aula com alunos malcomportados, Aguiar-Branco resolveu mostrar-nos que não lidera a casa da democracia a tempo inteiro, justificando as declarações com o facto de ter falado “enquanto militante do PSD”. Definitivamente, um ano não foi suficiente para perceber a importância e a grandeza de ser segunda figura do Estado.