Corpo do artigo
Questionado há dois anos sobre a necessidade de redimensionar o papel da Mulher na estrutura da Igreja Católica, o então cardeal Prevost, agora Papa Leão XIV, defendeu que uma eventual abertura do sacerdócio a todos os géneros não só não era solução, como até poderia criar um novo problema. É evidente que isto é pouco para conhecermos a fundo o pensamento do Pontífice, mas não deixa de ser preocupante, até porque a Igreja, como a generalidade dos setores da sociedade, também contribuiu para a via-sacra das mulheres. Em Portugal, por exemplo, até há 50 anos nem sequer podiam votar, viajar livremente ou queixar-se em tribunal do marido agressor.
Num tempo de reparações históricas, fazia sentido uma espécie de pedido de desculpas universal. E, já agora, acabar com as quotas da paridade e passar a ter como primeiro critério o mérito. A subalternização das mulheres está tão enraizada que somos sempre mais rápidos na identificação de problemas às lideranças femininas. Até as próprias mulheres muitas vezes o fazem, vá lá saber-se porquê.
Reconhecendo a sensibilidade da discussão numa instituição secular como a Igreja Católica, parece-me admissível que todo aquele extraordinário cerimonial do conclave possa ser encarado também como sinal de um certo machismo. Porque não podem as mulheres da Igreja contribuir para a escolha de um Papa? Há meia dúzia de séculos, a guerra era travada em nome da evangelização católica e, agora, milhões olham para o Papa Francisco como o maior e mais ouvido defensor da paz. Ou seja, a evolução caminhou no sentido certo. Esperemos que, em relação às mulheres, não seja preciso esperar mais vinte séculos.