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É mais nova do que eu, o que não compreendo. Em que instante quase todas as pessoas passaram a ter menos idade do que a minha? Tema para um outro dia, o que me interessa hoje é escrever sobre uma mulher mais nova do que eu, cinquenta e dois anos, não sei se tem filhos ou ainda tem pais, não sei o que pensa por nunca ter dado entrevistas, dizem-me que as detesta, que abomina os que não sobrevivem sem câmaras e ruído.
Susana Seca é a juíza principal no julgamento de Sócrates. Após 50 recursos, 300 juízes e com o seu gabinete “forrado” com 209 volumes do processo, a juíza sai de casa todos os dias com a responsabilidade de julgar um ex-primeiro-ministro ressentido e de uma arrogância que envergonha. Não me admiraria que, ao vestir a toga, pense em Max von Sydow, ator fétiche de Bergman e padre de “O exorcista” – antes de entrar no quarto da possessa fazia umas rezas que o protegiam de ficar ele próprio possuído pela besta.
O que se passar no Campus de Justiça poderá fazer jurisprudência em relação ao futuro. Porque também a ética e a moral deste tempo estão a ser julgadas. Infelizmente, com prejuízo para um poder político esmagado pela falta de credibilidade. Espero que a juíza possa separar as águas e tornar claro que não é um confronto entre a Justiça e a Política, não é um duelo ao Sol com pistoleiros nos telhados preparados para disparar pelas costas. Se fizer o seu papel, se aguentar uma pressão de que não imagino os contornos, Susana Seca deixará uma marca entre os que ficaram para a história por terem defendido a Democracia.