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Quem diria que iria ser numa noite parisiense que me haveria de lembrar de um tema que na verdade é cada vez mais atual e transversal. Trata-se de refletir sobre os legítimos direitos das minorias, que começaram por ser o problema, mas já evoluíram para um outro problema, a que eu chamaria a maioria das minorias. Que nos dias de hoje já domina a agenda mediática.
Nas últimas décadas existia um conjunto de minorias de diferente natureza e origem que ao longo dos tempos foram criando consciência da necessidade de verem os seus direitos reconhecidos. O advento da democracia na maioria dos países ditos civilizados contribuiu muito numa primeira linha para as legítimas aspirações de muitas minorias políticas, que gradualmente foram vendo os seus direitos sucessivamente reconhecidos até se posicionarem num plano de quase igualdade com os direitos das maiorias.
Seja no plano político ou partidário, mas não só, é hoje um princípio democrático indiscutível que a garantia dos direitos das minorias e a efetiva igualdade de oportunidades é um ponto assente. Para que fique já dito, as minorias de que hoje me ocupo não são apenas as minorias no plano político, mas todas as outras minorias, nomeadamente, nas questões religiosas, sociais, de género e étnicas.
Durante muito tempo pensou-se que os problemas e as reivindicações dessas minorias terminariam ou pelo menos acalmariam muito naquelas sociedades e países onde os seus direitos e respetiva igualdade de oportunidades fossem chegando à situação legítima e ideal. Na maior parte dos casos dos países da civilização ocidental foi isso que aconteceu, pelo menos em termos de reconhecimento legal e efetivo.
Acontece para surpresa de muitos que apesar dessa evolução positiva no reconhecimento dos seus direitos, continuamos a assistir a reivindicações de minorias que ultrapassam em muito qualquer razão de ser.
Porque é atual e porque tropecei nisso em Paris esta semana (e sem deixar de lamentar profundamente o exagero policial que levou à morte do jovem Nahel) tudo o que se passou a seguir durante vários dias e noites, toda a violência que atingiu pessoas, bens e instituições que nada têm ou tiveram a ver com o incidente, é um claro exemplo dessa nova tendência de algumas minorias se quererem arvorar como detentoras de uma maioria de razão.
Temo que esta maioria das minorias seja uma mau sinal dos tempos nos dias que correm.