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Nas eleições portuguesas, o resultado político transforma vencedores em perdedores e perdedores em vencedores, numa dança onde até aqueles que temem a vitória encontram um lugar. Provavelmente a decisão de Marcelo em dissolver a Assembleia da República poderá custar a sobrevivência ao seu próprio partido.
O PSD, sob a liderança de Luís Montenegro, emerge nominalmente como vencedor. Porém, esta “vitória” coloca-o numa posição paradoxalmente desvantajosa, encarando o dilema de negociar com o Chega - um movimento que antes era visto como anátema. O que à primeira vista parece ser um triunfo, na realidade, assemelha-se mais a um abraço de afogado. Por outro lado, o Chega, apesar de não ter conquistado o poder diretamente, emerge como o verdadeiro “vencedor” desta contenda. A sua expressiva votação não só garante uma voz forte no Parlamento, mas também uma influência significativa nas futuras direções políticas de Portugal.
André Ventura, líder do Chega, posiciona-se astutamente como parte essencial da solução para o impasse governamental, jogando com a necessidade do PSD de evitar uma crise política maior.
No centro desta trama está Pedro Nuno Santos, apesar de posicionar-se à Esquerda, declara-se prematuramente na Oposição, temendo ser catapultado para um papel de vencedor indesejado.
Esta autoexclusão antecipada revela um receio de enfrentar o desafio de liderar em tempos de divisão profunda, preferindo a segurança do papel de observador crítico à incerteza do comando. Esta inversão de papéis entre vencedores e perdedores destaca a nova realidade da política portuguesa, consequência esperada da inusitada decisão de Marcelo em dissolver a Assembleia da República depois de ter entrado em confronto direto e público com António Costa.
A Marcelo o que é de Marcelo. Será que lhe chega?