A distribuição do dinheiro sempre foi um problema para os governos, sobretudo quando não abunda. Como se vê pela atualidade política, num país, como numa casa, ter um bom orçamento é tudo. Impossível mesmo é agradar a todos.
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Quando se governa sem maioria, a negociação torna-se ainda mais intensa, ao ponto de, a dois dias da discussão do Orçamento na Assembleia da República, ainda ninguém ter certezas sobre se o documento será viabilizado. Acredito que nem com todos os euros do Mundo em caixa e duas "bazucas" seria possível satisfazer as exigências da oposição, mas há setores sobre os quais quase nem se fala e que mereciam mais atenção e uma estratégia diferente. A Justiça encontra-se, quase sempre, nesta nebulosa do esquecimento. Há um par de dias, o secretário de Estado da Justiça, Mário Belo Morgado, usou as redes sociais para criticar o diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), Albano Pinto, por este considerar insuficiente o milhão de euros que chega àquele organismo através da "bazuca".
Além de incompreensível e indesculpável, por ter sido feito através das redes sociais, onde tudo se discute e nada se resolve, o ataque do governante diz muito sobre a forma como os políticos olham para a Justiça. O DCIAP trata os casos especialmente complexos, crimes de colarinho branco, sempre servidos por carrosséis de dinheiro obscuro a circular por offshores, e é evidente que tudo isto é feito com falta de meios, não obstante os muitos milhões de euros que as investigações conseguiram recuperar em poucos anos. Portugal ocupa o 33.º lugar no Índice de Perceção da Corrupção, estimando-se que a cada 12 meses 18 mil milhões de euros escapem do país de forma ilegal. Se calhar, em vez de se dedicar a destratar procuradores no Facebook, Mário Belo Morgado prestaria um serviço melhor se contribuísse para o reforço dos meios que permitem resgatar este dinheiro, que muito jeito daria, agora, ao Orçamento do Estado.
Chefe de redação