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Dentro de um ano, veremos se as previsões do Banco de Portugal se concretizam, mas não deixa de ser sintomático lidarmos com indicadores que apontam para o regresso ao défice nas administrações públicas, ainda mais quando temos um Governo de Direita, a mesma que durante décadas chamou a si a batalha das contas certas, acusando a Esquerda de despesismo.
No ciclo político anterior, os executivos de António Costa quebraram o mito. Luís Montenegro parece despreocupado, até porque 2024 fechará com excedente, só que a conjuntura poderá não ser tão favorável em 2025, numa Europa sem dinheiro para alimentar a Ucrânia na guerra com a Rússia, pressionada para investir em defesa como há muito não se via e com os seus dois grandes pilares, França e Alemanha, a viverem um período de instabilidade.
Se este quadro preocupa as economias robustas, o que dizer em relação a um país periférico como Portugal? A necessidade de tornar efetivas as promessas de aumentos feitas durante a campanha eleitoral têm um preço alto, porque por cada setor da função pública satisfeito, outro insatisfeito se levanta. Tem sido assim e em 2025 não será diferente. A questão que se coloca é se o Governo conseguirá resistir a esta pressão.
Trata-se de uma espécie de jogo da corda: de um lado a obrigatoriedade de manter as contas no verde, do outro os trabalhadores do Estado em luta por aumentos. Conhecidas as precisões do Banco de Portugal, não haveria maior ironia do que, à semelhança do que se passou quando Mário Centeno, atual governador, foi ministro das Finanças, o recurso às cativações fosse a solução para manter as contas do país saudáveis, porque essa estratégia também é responsável pela degradação dos serviços públicos.