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Especialista em antecipar problemas, Mário Centeno ofereceu aos portugueses a receita para todas as maleitas financeiras. Antes de chegarem os dias do fim, poupar, poupar desde pequenino, aconselha o governador do Banco de Portugal. Em teoria, terá razão. Num tempo que não deixa saudades, havia quem passasse fome para aconchegar notas de 20 escudos debaixo do colchão, não fosse ser confrontado com “uma dor de barriga. Quando vamos a uma consulta médica, somos sujeitos a um diagnóstico, depois é-nos prescrito o medicamento. Talvez o dr. Centeno se tenha esquecido desta sequência, porque, se metade dos portugueses ganha menos de mil euros, está bom de ver que o dinheiro esgota antes dos dias do mês, pelo que fica difícil perceber como será possível encher o porquinho. Antes de liderar o Banco de Portugal, Mário Centeno foi ministro das Finanças. Com bons resultados. Seria mais simples se os portugueses se pudessem inspirar na estratégia do então proclamado “Ronaldo das Finanças”, que ficou célebre pelas cativações. Mas os trabalhadores não podem cativar as rendas da casa, porque correm o risco de serem despejados, não podem cativar a prestação do cartão do supermercado, porque o mais certo é passarem fome, nem as contas da água e da luz, porque ninguém sobrevive à sede e às escuras. As palavras de Mário Centeno ilustram um dos maiores problemas dos políticos em Portugal. Nem todos, é certo, mas boa parte deles parece estar sempre muito distante da realidade e das dificuldades das pessoas que não frequentam as cortes da capital, prescrevendo receitas que só merecem um comentário: rir é o melhor remédio.