Se alguém tivesse adormecido naquele verão escaldante de 2015 e acordado agora, ficaria no limiar do choque com duas situações: a pandemia e o regresso de Jorge Jesus ao Benfica.
Corpo do artigo
São incomparáveis em termos de dimensão - apesar de os diretos televisivos à chegada do treinador a Portugal denunciarem o contrário -, mas encontram-se ambas no limite de realidades que só estávamos habituados a ver em filmes.
De um técnico que recebeu o pior tratamento possível por parte do Benfica, a partir do momento em que o clube se apercebeu que comandaria a equipa rival, não se esperaria o regresso, sobretudo contratado pelo mesmíssimo presidente, Luís Filipe Vieira.
Como escreveu Karl Marx, "a razão sempre existiu, mas nem sempre de forma razoável". E a guerra que o Benfica e alguns megafones que possuía e possui na opinião pública travaram contra o técnico tinha como objetivo principal desviar as atenções de uma decisão estratégica absurda. Essa era a razão, ainda mais à vista agora, uma vez que Jorge Jesus, profissional de futebol, se limitou a seguir um dos caminhos possíveis, depois de lhe abrirem a porta de saída.
A seu tempo, provavelmente quando Jorge Jesus for apresentado, o presidente das águias há de dar a versão própria sobre as razões que conduziram a esta grande reviravolta, contratando o treinador que processou há cinco anos - reclamando, então, uma indemnização de 14 milhões de euros que, por ser sustentada em premissas absurdas, nem merecem ser lembradas -, mas tenho duas certezas: a primeira é que estamos perante um extraordinário treinador. Não pode assegurar títulos, mas garante bom futebol. E a segunda é que se trata de alguém que não se esconde (se calhar, até se mostra em demasia), alguém que assumirá o protagonismo no insucesso, se acontecer, porque o do êxito pertencerá sempre à "estrutura".
Editor-executivo