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No último Fórum Brasil-Portugal, em São Paulo, João Marques da Cruz, CEO da EDP Brasil, fez o que poucos conseguem: reduziu a complexidade do mercado brasileiro a seis pontos essenciais. Em segundos, ele explicou o que me levou aí uns dois anos a compreender. Um verdadeiro manual de instruções para investir no Brasil.
Os fatores são simples: segurança jurídica, instituições fortes, democracia estável, potencial de crescimento, taxa de juro e flutuação cambial. Destes, os quatro primeiros são os ventos que empurram o barco na direção certa; os dois últimos, as marés traiçoeiras que exigem atenção constante.
A segurança jurídica é a base de qualquer investimento. Sem ela, contratos nada valem e planeamento é um exercício de adivinhação. As instituições fortes garantem previsibilidade: um Governo pode mudar, mas as regras do jogo não. A democracia estável é o que diferencia mercados estruturados de aventuras de alto risco - quando um país se divide entre fações e não ideias, o investimento é um salto no escuro. A economia com potencial de crescimento é a razão de tudo isso: o Brasil tem mercado consumidor, recursos naturais e procura reprimida. Crescer ali não é questão de se, mas de como.
A taxa de juro e a flutuação cambial são os grandes desafios. Juros altos são travão para qualquer investimento de longo prazo, fazem o crédito caro e o risco elevado, a instabilidade cambial adiciona um elemento de incerteza que pode transformar um grande negócio num pesadelo da noite para o dia.
Eça de Queirós dizia que a clareza é um poder. Os seis pontos de Marques da Cruz provam isso. No Brasil, tomar decisões exige saber ver além do ruído. E quando se colocam os fatores certos na equação, fica claro: o risco existe, mas para quem entende o jogo, as oportunidades também.