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O impacto de “Adolescência” surpreende por ser tão profundo. Estamos perante um abalo de consciências provocado por uma série de uma plataforma de streaming que despertou réplicas um pouco por todo o Mundo, talvez porque no centro da ação estão filhos, pais e o seu confronto com a realidade dura das redes sociais. No fundo, tão dura como a vida, que também pode ter um lado mau. Mas será que não estávamos avisados? Não sabíamos que é assim, mesmo descontando que se trata de ficção? A verdade, que ajuda a desencadear um processo de culpa, é que se não sabíamos é porque não quisemos saber. Não me refiro ao controlo absoluto sobre os movimentos dos jovens – quem tem filhos sabe que é impossível e que qualquer pai ou mãe exemplares podem ser apanhados desprevenidos –, falo de fenómenos com o bullying e a violência no namoro, que encontram nas redes sociais um terrível catalisador. Acontece que negligenciamos as notícias e os estudos que ao longo dos últimos anos nos vêm alertando para os problemas relacionados com a Internet, uma ferramenta extraordinária que nos coloca a todas as horas novos desafios. Além de nos mantermos vigilantes, é difícil encontrar a receita para lidarmos com o problema. É impossível fechar crianças e jovens num ecossistema próprio em que não sejam confrontados com isto. Podemos proibir uma ou outra coisa, mas nada garante. É indispensável informar e estarmos informados, nenhuma dúvida, porque educar ao sabor das ondas de choque causadas por uma série, por mais extraordinária que seja, também não é solução para nada, mesmo tendo presente que este despertar de consciências é positivo.