Ai chega, chega, chega a minha agulha

A nossa estimada e eterna Beatriz Costa já não pode cantar hoje de novo estes versos, nem está disponível para tomar um chá no Tivoli onde era, mais do que hóspede residente, uma pessoa da família.

Mas a novela dos últimos tempos a propósito do acordo açoriano com incidência continental entre os partidos de Rui Rio e André Ventura teve o condão de ressuscitar a atualidade desta canção que passo a comentar.

Desde já pelo refrão inicial, é preciso perceber quem se chega e quem se quer afastar. Ainda não é totalmente claro que seja o PSD a querer afastar o Chega. Falta saber se o Chega não sente já que tem de se afastar da promiscuidade com o partido que já votou a favor da sociedade sem classes. Devo dizer que tenho um jantar em jogo nesta questão. Apostei com um amigo que já foi da LCI e costuma votar à esquerda que, apesar de todos estarem preocupados com as consequências deste acordo para o PSD, André Ventura não vai chegar aos 10 % nas presidenciais por causa disto mesmo. Imaginando-me eleitor do Chega, não percebo porque haveria de continuar a votar num homem ou num partido que, à primeira oportunidade de vislumbrar uma côdea de poder, já se junta ao "sistema", quando nasceu para o combater.

Voltando à canção, cantava assim a Beatriz, logo a seguir aos versos iniciais, acima reproduzidos: "Brejeira, não sejas trafulha, ó linda vem coser o avental". Aqui parece-me claro o cuidado que o PSD tem de ter com este tema. Apesar da brejeirice de alguns tweets já trocados no mesmo mood e timing (Sei lá! Não há coincidências, como diria uma escritora também famosa), a caranguejola açoriana pode não ser mais trafulha que a geringonça continental, mas não parece filha da turma do avental.

Porventura o maior problema do André é nunca saber o que acha o partido das coisas que ele pensa. Como se viu nos últimos tempos, o André do Twitter tem a espinhosa missão de ser o controleiro do Ventura das conferências de Imprensa. Algumas posições extremadas trocam-se assim, mas é mais uma prova de que os extremos se tocam.

Para muitos eleitores de Direita que conheço, parecia ter chegado alguém que não tinha de se armar em liberal para poder ocupar o lugar vago desse lado da política, sem ter que se levantar de cada vez que passa uma velhinha ou recebe um convite ou um piropo do pessoal do sistema. Se André Ventura não se afasta de vez destas sombras, nem o pai morre nem a gente almoça. E lá se vai o meu jantar!

*Empresário