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O que se passa atualmente no Mundo deixa-nos com uma sensação de vazio, de apreensão, de injustiça, de incerteza. A par de vários outros conflitos geopolíticos, barreiras, muros, prisioneiros da geografia, a invasão da Ucrânia pela Rússia e a escalada do conflito Israel-Palestina fazem-nos sentir que se intensificarão as violações dos direitos humanos, os atentados ambientais e o esquecimento dos animais.
Apesar disso, há a esperança numa União Europeia que exija a aplicação do Direito Internacional, a proteção de civis, a luta incansável pela paz, que só se conseguirá com a autodeterminação dos povos e o cumprimento de acordos sobre as fronteiras, meras criações humanas.
Face ao que este conflito pode trazer ao Mundo, os temas nacionais têm sido menos destacados. Mas assinalo dois:
1. No Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, a Pordata divulgou que, por comparação com 2015, os salários não acompanharam de todo o aumento do preço das habitações, que em Portugal subiram 90% (na EU, o aumento médio foi 48%).
2. Devido ao corte raso de árvores que voltou à serra da Lousã (depois do atentado do Talasnal), fomos ao local: em Rede Natura 2000, lembrámos que a estratégia de investimento na reflorestação deveria acontecer por iniciativa do Governo, regulamentando os serviços de ecossistemas para apoiar financeiramente os particulares na plantação de autóctones (alternativa de rendimento ao eucaliptal, ao pinheiro para madeira e combate às invasoras). Mas o Governo prefere uma gestão danosa, um simplex ambiental que perpetua a inexistência de cadastro florestal, ao invés de adquirir áreas para florestar ou recompensar quem o faça. Em boa verdade, a árvore da reflorestação tem sido plantada maioritariamente pela sociedade civil, por associações como a Milvoz ou a Lousitânea, mas também por particulares ou por empresas que veem no turismo de natureza uma mais-valia para a região e uma esperança para o futuro. Na serra devastada, em silêncio, observámos veados à procura da sua casa e sentimos - feridos - que somos serra da Lousã.