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Num início de ano assolado pela incerteza, venho falar sobre a necessidade de prosseguirmos no avanço das nossas causas. Trago uma: a abolição da tauromaquia.
No fim de 2023, saiu o relatório do IGAC sobre a época tauromáquica em Portugal. Num contexto de evidente declínio — desde 2009 — do número de touradas, estas são distinguidas de festivais, de toureio misto a pé e a cavalo e de novilhadas, nas quais se usam animais mais jovens e mais leves… Contudo, além dos espetáculos tauromáquicos licenciados pela IGAC (ao abrigo de uma exceção na lei de proteção animal), continua a haver diversos eventos tauromáquicos de forma ilegal, como garraiadas, vacadas, etc., onde são massacrados inúmeros animais sem qualquer regulamentação ou fiscalização.
Pôr fim a esta ignomínia não é uma batalha dicotómica Esquerda vs Direita, é uma batalha entre a barbárie e o progresso ético. Mas, neste país, o presidente da República e o Governo recusaram-se a cumprir as recomendações da ONU para proteger crianças e jovens da violência tauromáquica, as decisões políticas continuam a sobrepor-se à vontade maioritária das pessoas em Portugal: abolir as práticas tauromáquicas.
O mesmo relatório refere que o IGAC encontrou irregularidades num terço da atividade tauromáquica inspecionada e que foram massacrados e torturados mais de mil touros em eventos normalizados/legais de promoção da violência gratuita. Não está nas estatísticas, mas em 2023 morreram 3 cavalos de toureio vítimas de ataque cardíaco e “morte súbita” pelo esforço atroz a que são sujeitos.
Menos uma tourada significa, em média, menos seis touros torturados, menos cavalos sujeitos à violência e menos pessoas expostas a um evento bárbaro. Contudo, em Portugal, a ampla maioria dos partidos (à exceção de um) normaliza a diversão de torturar mais de 1000 touros por ano e o Estado (por via das câmaras municipais e até das juntas de freguesia) continua a financiar esta atividade com 19 milhões de euros por ano.
A tauromaquia não é expressiva na Europa, mas uma vez que os respectivos governos dos três países da Europa onde a prática tauromáquica permanece - nada fazem - urge a mão firme da União Europa para, no mínimo, travar os fundos comunitários para esta crueldade que em nada nos dignifica como humanos.