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No discurso da tomada de posse, Amadeu Guerra, o novo procurador-geral da República, imediatamente traçou linhas vermelhas. Todos têm as suas. Uma espécie de moda que rompe os tradicionais ciclos outono/inverno e primavera/verão e atravessa o ano inteiro com protagonistas dos vários setores da sociedade. Da política à magistratura, da economia ao desporto, erguem-se muros de intransigência pouco saudáveis e bloqueadores do clima de discussão aberta, imprescindível à evolução de qualquer comunidade.
O problema não está nas causas, nem em Amadeu Guerra. É só mais um. A questão é profunda. Não está na árvore, encontra-se na floresta de linhas confusas que todos se apressam a traçar, o que sinaliza tempos de polarização que nos transportam para uma realidade perigosa, caminho que, no limite, nos conduz ao desaparecimento das posições moderadas. O radicalismo, seja qual for, alimenta-se deste tipo de combustível. Talvez isto ajude a explicar o momento que atravessamos enquanto sociedade. Um olhar atento sobre o Mundo permite perceber esta tensão. O meio-termo está em vias de extinção. Esperemos nunca chegar ao ponto de ter saudades do abominável politicamente correto.
Voltando ao plano nacional, é evidente que há linhas vermelhas que não são para levar a sério. Como as de André Ventura. Ainda assim, agradam sempre a alguém. É por isso que se desenrolam de novelos nas mãos de mitómanos e se transformam em emaranhados suscetíveis de provocar paralisação ou mesmo atraso civilizacional. A única via rumo ao desenvolvimento é inverter a marcha na direção da tolerância. Sem saudosismos, recuperar um tempo, recente, em que ter convicções e espinha dorsal bastavam. É que continua a ser assim, independentemente da cor das linhas com que nos cosemos.