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Portugal consolidou-se nos últimos quatro anos, após o golpe causado pela pandemia, como um dos principais destinos turísticos do Mundo, tendo em conta a dimensão do país. Nos primeiros três meses do ano, a indústria hoteleira recebeu 2,3 milhões de turistas, um dos melhores trimestres da sua história, e prepara-se para bater o recorde no número de viajantes quando terminar o ano ao atingir os 27 mil milhões de euros de receitas, contra os 25 mil milhões do ano passado. Não é por acaso que estão a nascer hotéis como cogumelos em quase todos os cantos do território. Portugal inaugurou 418 hotéis nos últimos três anos e prepara-se para abrir mais 100 em dois anos. Ninguém duvida que o turismo dá à economia e ao emprego uma ajuda crucial. Este ano, a contribuição do setor para o produto interno bruto poderá ultrapassar os 10%, quando ainda nem há uma década representava pouco mais do que 5%. No entanto, este crescimento desenfreado tem também colocado questões muito importantes. Tem de haver uma crescente consciência social de que a sustentabilidade deve ser a essência do novo modelo turístico. É que o sucesso não se mede só pelo número de visitantes, mas também pelo impacto que o turismo tem nas cidades, principalmente em Lisboa e no Porto. É evidente que o interesse lógico no benefício económico deve ser compatível com o interesse e as necessidades dos cidadãos, principalmente quando têm impacto na qualidade de vida dos locais. É preciso analisar e agir sobre os efeitos do turismo de massa em áreas cruciais como o custo da habitação, o aumento dos preços no consumidor ou a ocupação do espaço público. Portugal viveu uma bolha imobiliária cujo rebentamento abriu uma crise profunda que foi largamente ultrapassada graças à crescente contribuição do turismo. Mas, com o passar dos anos, é altura de se reverem as licenças de alojamento local, ao mesmo tempo que aumentam os obstáculos ao acesso à habitação, especialmente para os mais jovens.