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Há características que ou nascem connosco ou nunca as vamos poder adquirir. Outras há que podemos aperfeiçoar ao longo da vida. Ninguém nasce mal-educado, somos muitas vezes fruto do meio, o que não nos garante uma boa educação. A partir de certa altura, no entanto, só depende de nós usarmos os padrões mínimos da decência para comunicar no espaço público. Quando sentados na casa da democracia, a Assembleia da República (AR), é fundamental que assim seja, porque o contrário só contribuirá para descredibilizar a instituição. O ideal seria dispensar aquela espécie de mordaça em que se transforma o ato de desligar o microfone, os ralhetes, as reguadas ou os puxões de orelhas de que Augusto Santos Silva, o anterior presidente da AR, usou e abusou, porque aquelas bancadas são um espaço onde a liberdade deve ser cultivada e aprimorada.
As declarações de André Ventura sobre o povo turco e o comportamento infantil e acintoso de alguns deputados do Chega, entretanto denunciados, por exemplo, pela líder do PAN, Inês Sousa Real, colocam-nos perante uma situação nova, que deve ser travada sem contemplações. É inadmissível pactuar com as artimanhas de uma direita radical que aposta tudo na descredibilização das instituições e no discurso xenófobo, mas também não acredito que a solução passe por silenciar os prevaricadores, como, de resto assumiu, sem explicação cabal - e, portanto, insuficiente - José Pedro Aguiar-Branco, atual líder da AR.
Como já terão percebido, André Ventura e boa parte dos deputados da sua bancada ou não tiveram sorte com a educação que receberam ou cultivam a má educação e não parecem ter vontade de alterar a postura, porque embarcaram numa ofensiva sustentada na velha tática do quanto pior melhor. Perante este quadro, o que fazer? A via mais eficaz talvez seja a de expor, debater, combater e, se houver necessidade e legitimidade jurídica, retirar a imunidade parlamentar, para o assunto ser dirimido em fórum judicial. Silenciar é abrir a porta à vitimização, tão querida da direita populista, sobretudo agora, personificada em 50 deputados.