Os últimos dias têm sido pródigos em posições públicas que dificultam o processo de vacinação contra a covid-19, ao levantarem dúvidas sobre a eficácia das vacinas e a utilidade da sua toma, quer por adultos, quer por crianças. E a DGS, que devia informar de forma clara e transparente, parece incapaz de dissipar incertezas e desconfianças nesta matéria.
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Ora, segundo um estudo da Organização Mundial de Saúde e do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, a vacinação evitou a morte de mais de 14 mil portugueses e quase 500 mil europeus com mais de 60 anos. Isto significa que as vacinas oferecem, de facto, uma proteção muito alta contra doença severa e morte.
De resto, basta comparar o número de internamentos e mortes neste final de ano com igual período de 2020, em que o registo de infeções diárias era muito próximo do de hoje, para constatar que as vacinas estão a cumprir as expectativas. A comparação dispensa qualquer justificação adicional, e chegaria para calar os mais céticos em relação à eficácia das vacinas.
Mas, como é usual em períodos eleitorais e beneficiando da acesa competição entre canais televisivos de informação, há sempre quem queira lançar polémicas artificiais em torno do processo de vacinação. Polémicas, essas, que depois alimentam as teorias da conspiração que inflamam as redes sociais.
Para combater a desinformação, há que fazer uso da transparência e assumir que a ciência evolui em função dos dados que vão sendo descobertos. A investigação científica é, por natureza, um work in progress e, neste sentido, o conhecimento produzido está sempre a ser reavaliado e revisto.
As pessoas devem procurar perceber como funciona a ciência e reconhecer a sua importância nas suas vidas. No caso particular da pandemia, há que ter consciência de que o sistema científico mundial ainda está a decifrar o SARS-CoV-2 e, ao mesmo tempo, a tentar encontrar os melhores antídotos para este vírus.
Até lá, só nos resta confiar nas vacinas, que, não sendo perfeitas, são por ora o nosso melhor escudo protetor.
*Reitor da Universidade do Porto