Em 2020, o setor privado foi responsável por 57% da despesa bruta nacional com I&D, que atingiu, nesse ano, o seu máximo histórico: mais de 3200 milhões de euros (1,62% do PIB). Para se ter uma ideia, em 2015, apenas 44% desta despesa era produzida pelo setor privado.
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A tendência crescente dos gastos em I&D deve-se então, em boa medida, ao esforço das empresas para converter conhecimento em valor económico. Aliás, em 2020, houve mais 541 empresas (4300 no total) a desenvolver atividades de I&D do que no ano anterior. As empresas estão de facto a reforçar o seu papel no sistema científico e de inovação nacional, o que é positivo e vai ao encontro do que acontece nos países mais desenvolvidos.
Mas convém lembrar que sem investimento na investigação fundamental (produção de conhecimento sem objetivos específicos de aplicação prática) não há inovação, pois as empresas necessitam de resultados científicos a partir dos quais possam criar valor para o mercado. Importa, pois, que as instituições de ensino superior e respetivos centros de investigação intensifiquem a produção de ciência, para que depois as empresas possam desenvolver novos processos, produtos, tecnologias e serviços a partir do conhecimento.
Neste sentido, é essencial que as fronteiras sejam cada vez mais fluidas e a cooperação mais intensa entre Academia e empresas. Ora, isto exige que se repense o sistema científico e de inovação, tendo em conta o novo protagonismo do setor privado.
É necessária uma verdadeira aliança entre o meio académico e o tecido empresarial, a partir de uma política integrada que promova a complementaridade entre duas mundivisões distintas. A mundivisão tendencialmente teorizante, aberta à partilha do saber e de longo prazo da Academia com a mundivisão eminentemente prática, confidencial e focada em resultados imediatos das empresas.
Para isso, as políticas de apoio à investigação e as políticas de incentivo ao investimento devem convergir estrategicamente, o que implica uma maior coordenação entre os órgãos e entidades que gerem os dois setores: o científico e o empresarial.
*Reitor da Universidade do Porto