Dentro de dois anos, as salas de cinema estarão cheias de filmes sobre este período desnaturado que vivemos devido à Covid-19.
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Serão películas épicas, que terão com protagonistas os Di Caprios desta vida, bonitos médicos, enfermeiras poéticas a protagonizar tragédias pejadas de heróis anónimos. Antes de alguém se lembrar de dizer que copiei o guião, antecipo, neste pequeno espaço, um drama bem ao estilo da velha Hollywood, com praias paradisíacas e uma jovem encantadora que passa férias num oásis da savana africana. O pai, abastado homem de negócios, fartou-se de faturar à custa da vergonhosa especulação com o preço das máscaras cirúrgicas.
A ação puxa à lágrima quando a filha, antes cheia de vida, agoniza num hospital onde falta tudo, porque não há dinheiro para pagar o básico, agora que o ouro é mais barato do que o álcool. As cenas finais são em jeito de catarse. O empresário converte-se à decência e até o iate ancorado ao largo das Seychelles é transformado em hospital. Tarde. Reconquista um lugar no Céu, mas perde o mais importante: a vida.
Não consigo desejar o infortúnio a ninguém, mas quem não se indigna com os que enchem os bolsos à custa da desgraça?
Jornalista