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Tudo o que não seja condenar sem hesitação os crimes ocorridos na cidade do Porto contra imigrantes só serve para dar força às vagas de racismo e xenofobia que banham as Américas e a Europa. Como tudo chega tarde a Portugal, também estas tendências supremacistas, suportadas pelo ganho de relevância da extrema-direita, acompanham o quadro político do país. Não há margem para “mas”. Os assaltos não têm cor, nem nacionalidade. É impossível encontrar uma explicação aceitável para transformar um episódio, que nem sequer é caso isolado, numa discussão sobre imigração, quando a grande preocupação que deve nortear a sociedade é a condenação do racismo evidente que está na origem.
A associação dos problemas do país aos residentes estrangeiros é uma estratégia velha, mas continua a infecionar os mais vulneráveis, por desconhecimento. Esse é o objetivo da retórica populista, racista e radical subjacente a uma manifestação sob o lema “Menos imigração, mais habitação”. A dificuldade de acesso a uma casa é dramática no nosso país, principalmente nas grandes cidades, e transversal a todas as idades. Neste contexto de dificuldade, é relativamente simples, com recurso à falsidade que sempre acompanha a manipulação, induzir junto das populações que a culpa é da comunidade imigrante.
Como se percebe pela manchete desta edição do “Jornal de Notícias”, no limite, até pode ser admissível encontrar pontos de contacto, mas apenas num nicho muito específico: o dos estrangeiros que fizeram negócios em Portugal com passaportes gold. Só que essa minoria nunca será vítima de ataques cobardes dos racistas (e ainda bem), porque está no topo de uma pirâmide impossível de escalar, embora seja inequívoco que o tipo de negócios em que se movimentam contribuiu para a escalada dos preços das casas.