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Eduardo Lourenço dizia que “Os povos que perdem a cultura perdem-se de si mesmos” e Portugal acaba de apagar um nome da sua paisagem institucional: o Ministério da Cultura. Ao fazê-lo, apaga um espelho. Porque um país que reduz a sua cultura a uma secretaria perde não só voz – perde o rosto.
A nova configuração do Governo, fundindo Cultura com Juventude e Desporto, retira da vida cultural o estatuto simbólico e político que deveria protegê-la. Mais que uma reorganização técnica, é um recuo de projeto. A Cultura não pode ser gerida como acessório lúdico de agendas juvenis ou desportivas. Ela é a espinha dorsal da soberania simbólica de um país.
Ainda assim, recusar o gesto não é recusar o futuro. Portugal merece – e precisa – de um horizonte maior. Se o novo ministério conjunto for capaz de romper com os automatismos burocráticos e, com audácia, tratar Cultura, Juventude e Desporto como motores convergentes de transformação, talvez o gesto que hoje inquieta possa amanhã surpreender. Mas para isso será preciso mais que gestão. Será preciso visão.
A exigência é clara: que não se dilua a Cultura, que não se trate a arte como “expressão” genérica nem os artistas como problema orçamental. Que se entenda o teatro como parte da educação, o livro como parte da política pública, o cinema como parte da diplomacia nacional.
Este lamento não é resistência ao novo. É recusa à mediocridade. E se há algo que a Cultura sempre soube fazer, mesmo sob escombros, é transformar ruína em renascimento. Desejamos, pois, que este ministério ampliado encontre luz – e transforme Portugal no Estado de topo que pode ser. Pela força da sua juventude, pela beleza do seu desporto, mas sobretudo pela grandeza da sua cultura.