Percebe-se a necessidade de encontrar respostas rápidas para o caos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), é preciso reconquistar a confiança dos profissionais e tornar a carreira mais atrativa, mas esta ideia de quase resumir as soluções ao aumento de remunerações é um erro crasso. Será preciso muito mais para normalizar a oferta e melhorar a relação entre hospitais e utentes, agora num desgaste permanente e sem sinais de cura, segundo a perceção da diretora-geral da Saúde, cuja mensagem forte da última intervenção consistiu em desaconselhar os portugueses a ficarem doentes no verão.
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Com tantos perigos ao virar da esquina à medida que o calor aperta, o único caminho é mesmo reformar. Pode ser que assim voltemos aos tempos felizes em que andávamos despreocupados nas férias, sem medo de bater com o nariz na porta das urgências. O Governo sabe que o SNS precisa de uma reformulação estrutural profunda, projetada a pensar em décadas, numa estratégia de longo prazo que não seja refém do penso rápido à medida dos tempos e políticas eleitorais. Nesse sentido, parece tão acertada como fundamental a ideia de criar um CEO para o SNS, alguém que não esteja amarrado a questões partidárias e acrescente competências técnicas. A saúde dos portugueses não pode estar nas mãos dos privados, é certo, mas a coisa pública deve ser gerida com o mesmo rigor e exigência que as grandes empresas colocam no seu dia a dia, o que não tem acontecido com o SNS. É preciso uma liderança livre das flutuações políticas e do ambiente partidário. Se é nisto que António Costa pensa, a medida já vem tarde. Mas, sem as reformas necessárias e prometidas, há sempre o perigo de se tratar apenas de mais um cargo criado para servir de escudo a titulares da temida pasta da Saúde. Por falar nisso, a ministra Marta Temido volta a enfrentar o fogo da crítica depois de amanhã, no Parlamento.
*Diretor-adjunto