Corpo do artigo
Apesar de todos os problemas e imperfeições, a Europa continua a ser, enquanto conjunto de nações, um bastião de decência. A construção europeia, através da sua União, permitiu o mais longo período de paz e prosperidade da história do continente, ainda por cima norteada por princípios de discriminação positiva dos mais desfavorecidos, sejam pessoas ou territórios. É, pois, natural que gananciosos aspirantes a figuras providenciais, como Musk, procurem destratar e abalar os pilares do edifício europeu, porque a sua existência funcionará sempre como barreira aos ideais fascistas que defendem. A intervenção do homem mais rico do Mundo - que desde há uma semana tem gabinete na Casa Branca - num comício da extrema-direita alemã insere-se numa estratégia de destruição das democracias como as conhecemos, em que os eleitos têm carta branca para atropelar direitos básicos e convenções. Isto já está a acontecer nos Estados Unidos, como bem sabemos. Nunca como nestes tempos cinzentos foi tão importante defender os valores europeus e a estabilidade conseguida depois da II Grande Guerra. Suspeito que, desta vez, seja ainda mais difícil, porque não poderemos contar com o aliado que sempre tivemos do outro lado do Atlântico. Há dias, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem deu razão a uma mulher num processo contra o Estado, depois de os tribunais franceses a terem considerado culpada por não cumprir os deveres conjugais, ao recusar-se a fazer sexo com o marido. Estas são as instituições e valores que estão em perigo. As que defendem os direitos das mulheres, dos pobres, dos migrantes. Enfim, dos mais desprotegidos. Ninguém deve excluir-se da obrigação de as defender.