No dia 7 de maio de 2022, Portugal entrou em défice ecológico e passou a viver a crédito ambiental. A cada ano que passa, gastamos e esgotamos mais rapidamente os recursos que o planeta seria capaz de repor anualmente.
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Este ano, "o dia de sobrecarga da Terra" foi atingido ainda seis dias mais cedo. Na medição da nossa pegada ecológica, é tido em conta o uso de terra cultivada, das florestas, pastagens, áreas de pesca e a absorção de resíduos, comparando-o com a capacidade da Terra para voltar a fornecer os mesmos (biocapacidade)(1).
Contas feitas, entramos em défice ecológico ao 127.º dia de 2022. Podemos dizer que estamos a viver agarrados ao "cartão de crédito ambiental", consumindo assim os recursos que só poderíamos estar a utilizar em 2023. As políticas que permitem usar a Terra como num mercado liberal fazem com que precisemos de 2,5 planetas para viver, isto, com este ritmo de extração, produção e gestão de recursos e, consequentemente, de resíduos. A alternativa de usar e cuidar da Casa Comum, o planeta Terra, tendo em conta princípios regenerativos, adaptados às alterações climáticas, não tem de significar austeridade, mas um melhor uso dos recursos, mais eficiente, mais responsável e mais consciente. E, por isso, propomos que até 2030, pelo menos 25% do terreno agrícola em Portugal tenha produção biológica, regenerativa e com gestão eficiente da água. Propomos ainda os apoios para a reconversão de atividades económicas lesivas para a saúde ambiental e humana, em atividades ambientalmente responsáveis, assim como a aposta na investigação e produção de proteína vegetal que sejam alternativas ao consumo de proteína animal.
Relatório atrás de relatório da ONU, a mensagem é clara: o aquecimento global poderá ser mitigado com mudanças no consumo alimentar, sobretudo reduzindo drasticamente o consumo de carne e o desperdício alimentar. Se o fator dívida ecológica não serve como argumento, será que serve o da dívida que deixaremos às crianças e jovens? O futuro é já!
(1) Os dados apresentados decorrem de uma análise da associação Zero, em parceria com a Global Footprint Network, e são relativos à pegada ecológica de Portugal.
*Dirigente do PAN