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O triunfo de André Villas-Boas teve uma dimensão tão extraordinária que torna desnecessária uma discussão sobre o mérito da candidatura. No expoente máximo do processo democrático aplicado ao movimento associativo, os sócios do F. C. Porto optaram por colocar um ponto final na mais longa e titulada presidência do futebol mundial. O legado é pesado, no bom sentido, mas não deve ser fardo ou bitola de exigência para o presidente eleito. André Villas-Boas há de procurar trilhar o caminho de sucesso que os portistas sonharam quando depositaram o voto na urna, mas seguramente diferente do granjeado pelo histórico líder azul e branco, porque nestes 42 anos muita coisa mudou.
A análise ao F. C. Porto pós-Pinto da Costa deve ser feita quando houver substância, em função do tempo, da estratégia e, claro está, de títulos futuros, porque quando o tema é desporto o sucesso em campo conta muito. Pelo contrário, podemos começar, agora, a olhar com algum distanciamento para as várias dimensões do homem que sai de cena. Creio que a mais interessante merece ser estudada sob o ponto de vista sociológico. Pinto da Costa esteve sempre na primeira linha na defesa de interesses e valores bem mais importantes do que o futebol, como a regionalização, essa que não chega, mesmo calibrada na por estes dias tão elogiada Constituição de Abril. Ao afrontar o centralismo, tornou-se incómodo, colecionando inimigos, em boa medida também porque ainda há quem lide mal, ao fim deste tempo todo, com o facto de existir um clube de dimensão mundial fora da capital portuguesa. Alguns desfazem-se mesmo em elogios a André Villas-Boas. Desconfio que basta começar a ganhar para a coisa mudar. Cá estaremos para ver. Pinto da Costa não é um santo, já sabemos. Prova disso é que podia ter sido “canonizado” em vida, se tivesse saído pela “porta grande”, como tantos apregoam. Discordo. Claro que saiu pelo lado certo, numa batalha perdida e após extraordinário exercício de liberdade: um sócio, um voto. Não foi destituído pelos associados em assembleia-geral, nem se demitiu perante a ameaça de destituição, como aconteceu com os antecessores de Frederico Varandas e Rui Costa.