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“É hora de cada um assumir as suas responsabilidades”. Esta é a frase que consta no final do comunicado do Conselho de Ministros que dá conta da aprovação da moção de confiança que o Governo vai submeter ao Parlamento na terça-feira.
A frase é infeliz. A hora de cada um ter assumido as suas responsabilidades, da esquerda à direita, passando pelo centro e demais tendências políticas, aconteceu no dia 10 de março de 2024. O dia em que os portugueses foram chamados às urnas após uma crise política com contornos cinematográficos, escândalos e uma série de demissões. O Governo, então de maioria absoluta, cai, e das eleições resulta um Parlamento mais fragmentado, com 50 lugares ocupados pela extrema-direita.
Era hora de todos terem assumido as suas responsabilidades e finalmente dar rumo ao país. Os problemas de sempre estavam por resolver. Passou um ano e os problemas de sempre, aqueles que afetam as pessoas do país real, continuam sem resolução. O estado da Saúde e da Educação, a resposta à crise da habitação, o crescimento económico que continua longe das carteiras da maioria dos portugueses.
Poucos acertaram na hora. Um primeiro-ministro que andou com os ponteiros atrasados, um líder da Oposição que mudou o fuso horário conforme as circunstâncias e outros que tiveram de correr atrás do prejuízo com problemas no seio dos seus próprios partidos.
As prováveis eleições de maio serão apenas uma espécie de referendo, um teste de idoneidade. Quais serão as diferenças dos programas eleitorais que os partidos vão apresentar relativamente ao sufrágio do ano passado? Muito poucas.
Os portugueses vão ser de novo chamados às urnas e também era preciso que lhes explicassem muito bem as razões da convocatória. E um pedido de desculpas nem era exagerado.