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Provavelmente nenhum aluno que frequentou a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento ouviu falar, em contexto de sala de aula, de ghosting. Nem de breadcrumbing. Nem de zombieing. No entanto, muitos estudantes já terão sentido na pele algum destes jogos sentimentais. Outros já os terão praticado sem lhes dar nome. Também existirão professores que não conhecem os termos.
É que vivemos tempos em que a tecnologia molda os comportamentos, os afetos, as relações, emocionais e físicas. Ghosting (desaparecer de repente sem dar qualquer explicação), zombieing (reaparecer como se nada tivesse acontecido) ou breadcrumbing (manter alguém interessado enquanto se investe noutra relação) são expressões que nasceram nas aplicações de encontros e nas redes sociais. Todas se relacionam com práticas de alguma forma mediadas pela Internet. Normalizadas para quem cresceu online.
A educação, tal como é programada nas escolas, prepara os jovens para este Mundo? Quem desenha os currículos já passou, por exemplo, algumas horas no TikTok e refletiu sobre os conteúdos tóxicos, bizarros e misóginos que geram alcance e penetram por toda a comunidade? Seria bom aproveitar o debate público sobre a Cidadania e Desenvolvimento nas escolas para encarar a realidade dos jovens que nasceram com um smartphone nas mãos e não apenas para brincadeiras políticas que não servem nem alunos, nem pais, nem a sociedade.
Se queremos mesmo educar para a cidadania, precisamos de profissionais preparados e, sobretudo, de coragem para olhar para a realidade tal como ela é. Caso contrário, não dá match.