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Vivemos escravos da economia da atenção. Tudo compete pelo nosso olhar, pela nossa energia, pela nossa emoção; e as coisas mais importantes, aquelas que realmente sustentam o nosso mundo, raramente entram na disputa.
O amor permanece à margem. Não porque não seja essencial, mas porque é dado como inquestionável. Já não o olhamos de frente, não o tratamos como algo urgente.
Talvez por isso nunca tenha sido escolhido como a palavra do ano. As palavras que ganham destaque - ódio, ansiedade, guerra - são as que explodem nos feeds, nas manchetes e nos discursos. São as que gritam mais alto.
O amor, porém, é silêncio, é constância. E é exatamente por ser tão silencioso que precisa de ser trazido para o centro da nossa atenção. Nos tempos da polarização, da raiva que se multiplica e da ansiedade que paralisa, é urgente o amor.
Lembro o poema de Eugénio de Andrade, ainda mais imortalizado pelo génio novo da Garota [Cátia] Não. “É urgente o amor [...]. É urgente destruir certas palavras.”
Mais que poesia, o poema canção é um apelo à sobrevivência: um aviso. Sem amor somos náufragos, mesmo em terra firme. Amar é a forma mais revolucionária de resistir ao ódio, ao cinismo e à indiferença. É um ato de escolha, também de atenção, de presença.
Querer o amor como a palavra de 2025 não é apenas um gesto simbólico; é uma proposta política, ética e cultural. É devolver-lhe o lugar, é dizer ao Mundo que o amor não é uma abstração ou um privilégio, mas uma necessidade visceral.
Num tempo em que tudo o que é negativo ocupa o palco, precisamos de lutar para que o que é positivo receba a atenção que merece.
Que 2025 seja o ano em que a palavra amor ganhe o espaço que lhe é devido. Que seja a palavra da esperança, o barco para nos tirar da tempestade. Amor. Nunca foi tão urgente.