"Guardado está o bocado para quem o há de comer". Este "bocado" que esteve guardado até quase ao final do ano foi a substituição do chefe de Estado-Maior da Armada, Mendes Calado.
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Inspirado por este primeiro provérbio popular, resolvi dedicar esta minha última crónica do ano à proverbial sabedoria popular portuguesa. Que só com a palavra calado tem muitas e profundas sentenças.
Voltando ao caso em apreço, começamos com "quem come calado não perde bocado". Quando o povo português inventou este provérbio, parecia mesmo que estava a imaginar que o novo almirante Gouveia e Melo, depois de ganhar esse "bocado" de chefe do Estado-Maior da Armada, passava a ficar calado. Como todos vimos, o nosso adorado Gouveia e Melo, sempre tão disponível para falar para a comunicação social em geral e para receber prémios de todo lado e de toda a gente enquanto era apenas vice-almirante, mal se apanhou almirante (sem vice) já nem um sorrisinho deixou aos jornalistas que o esperavam à saída da tomada de posse. É caso para dizer que entrou um mudo e saiu um calado. Mendes Calado.
Do segundo provérbio que aqui chamo à colação, lamento dizer, mas o povo não tem razão quando diz que "o calado é o melhor". Neste caso, o povo não previu bem esta situação, quer estejamos a falar do Mendes Calado, quer nos queiramos referir ao que falava pelos cotovelos e agora saiu calado.
Não são ainda totalmente conhecidos os detalhes desta substituição intempestiva do chefe de Estado-Maior da Armada, mas tudo leva a crer que foi o próprio Mendes Calado que aceitou "ab initio" essa situação.
Assim sendo, não ficou nada bem na fotografia da tomada de posse, exatamente por não ter sido possível tirar nenhuma foto com ele.
Tudo isto é muito estranho porque quer a carreira, quer o currículo deste almirante não faziam imaginar que não fosse capaz de manter o seu prumo até ao final dos seus dias como comandante chefe desse ramo militar. Por outro lado, Gouveia e Melo também não terá entrado com o pé direito na sua nova vida de almirante. Depois de ter sido considerado um vice-almirante quase consensual pelo povo português que (tirando os negacionistas) o adotou carinhosamente, a sua recusa em prestar declarações no seu primeiro ato como chefe de Estado-Maior da Armada não augura nada de bom. Mas tendo em conta que o povo também diz que "o jogo é calado" e que "o calado ganha sempre", o melhor é esperar para ver o que é que nos reserva este Gouveia e Melo versão 2022.
*Empresário