Corpo do artigo
Se as taxas de juro são o indicador de como andamos na economia, a redução do preço do dinheiro em 25 pontos base, para 3,25%, decidida na quinta-feira pelo Banco Central Europeu (BCE), pode explicar muita coisa. E uma delas é que, caso Frankfurt não invertesse o seu caminho, estaria a abrir os flancos para uma recessão ainda maior. A verdade é que estas boas notícias já chegam tarde. O BCE de Christine Lagarde tem pisado ovos há quase um ano. Andou atrás da Reserva Federal norte-americana, deu demasiada atenção à sua reputação e muito pouca atenção aos dados do produto interno bruto (PIB) que fazem com que vários países europeus se encaminhem precipitadamente para a recessão.
A descida desta semana, tal como as duas anteriores, é uma redução discreta, mas suficiente para indicar uma tendência de desescalada de uma política monetária demasiado restritiva há já algum tempo. Durante anos, a rigidez prolongada de Christine Lagarde fez com que a economia europeia arrefecesse mais profundamente do que o desejável. É o paradoxo dos bancos centrais: preso por ter cão e preso por não ter. Demasiada ousadia tem os seus problemas, mas não correr riscos quando necessário acaba por sair caro.
As consequências desta política monetária deu os seus frutos, mas com resultados diferentes. Os dois motores da economia europeia estão a gripar: a Alemanha está destinada a fechar o ano em recessão e a França não goza de muito melhor saúde, com um orçamento onde a ordem de comando é cortar, um verbo pouco habitual entre os franceses. Apesar disso, Portugal está numa posição melhor, com maior crescimento e menor inflação, mas se os dois principais parceiros começam a perder força, o país pode, de um dia para o outro, ir para o fundo do pelotão.
Se olharmos para a frente, quase tudo é nevoeiro. A inflação e o crescimento tendem a abrandar, apesar das reduções das taxas colocarem automaticamente mais dinheiro nos bolsos das pessoas. Tudo dependerá da Ucrânia e do Médio Oriente, que conduzem a tensões comerciais, mais tarifas e inflação, esse bicho aterrador.