O presidente da Câmara de Aveiro colocou o dedo na ferida, recentemente, ao comentar a dificuldade que as empresas do concelho têm em contratar trabalhadores. Ribau Esteves garante que, no imediato, faltam cerca de 1500. O problema não é novo, é até transversal a boa parte do país e tem várias dimensões. Uma delas está plasmada na manchete de hoje do "Jornal de Notícias", onde se pode ler que os salários dos licenciados caíram mais de 10% nos últimos nove anos.
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Portugal não é um bom país para quem andou três, quatro ou cinco anos na universidade. Não haverá maior frustração para um jovem recém-entrado no mercado de trabalho do que perceber que estudar, em termos financeiros, de pouco valeu. Se nos fecharmos no fator remuneração, a verdade é que pode nem ter valido nada, já que são muitas as profissões em que facilmente se conseguirá ganhar mais sem ser necessária formação superior.
Com os mercados abertos e a possibilidade de trabalharem remotamente em qualquer empresa do Mundo, estranho seria se os empresários portugueses, atendendo aos salários praticados, tivessem o campo de recrutamento cheio de jovens acabadinhos de sair das universidades, sobretudo depois de terem ouvido, precisamente há uma década, vários membros do Governo de Passos Coelho aconselhá-los à emigração.
Se calhar, nove anos depois, bem vistas as coisas, a falta de mão de obra qualificada também resulta desses conselhos nada prudentes, embora visionários: ter o "canudo" na mão passou a significar, efetivamente, perda de rendimento. De então para cá, o Estado patrocinou vários programas para seduzir os que saíram, mas sem grande sucesso, o que indica que sem salários competitivos continuaremos a assistir ao êxodo dos jovens qualificados, enquanto as empresas agonizam com a falta que eles fazem.
*Diretor-adjunto