Não é novidade para ninguém que, na atual dinâmica socioeconómica, as competências digitais são um fator crítico de desenvolvimento. E também não é surpresa a falta de talento tecnológico em Portugal, ou seja, a escassez de recursos humanos com formação especializada nas áreas da informática (programação, análise e desenvolvimento de sistemas, administração de redes, gestão de Tecnologias de Informação, cibersegurança, database, webdesign, etc.).
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Trata-se de um problema transversal aos setores público e privado e que atinge as diferentes fileiras económicas, das mais tradicionais às mais tecnológicas. Mas, por ser um bem escasso e precioso, o talento tecnológico tem muita procura pelo mercado de trabalho e essa procura faz valorizar os salários das ofertas de emprego nas áreas da informática. Donde, as empresas com menor capacidade financeira e a Administração Pública, devido às conhecidas limitações orçamentais do país, não conseguem competir pela atração de talento tecnológico.
Aqui chegados, há que atuar em duas frentes. Por um lado, importa preparar o sistema educativo para formar mais talento tecnológico, quer atraindo estudantes do Ensino Superior para cursos das áreas da informática, quer aumentando a oferta de programas de estudos que desenvolvam competências digitais em adultos e permitam a sua reconversão profissional.
Por outro lado, o país deve gizar uma estratégia nacional que sirva não só para fixar o seu talento tecnológico, que é cobiçado por outros países, mas também para atrair talento tecnológico do exterior, de forma a termos um brain gain nas áreas da informática.
Ora, essa estratégia não pode ter como principal fator de fixação e atração o proverbial trinómio sol, comida e simpatia. O país tem de oferecer melhores condições de trabalho (não só salários mais elevados mas também benefícios sociais, home office, flexibilidade laboral, formação profissional, etc.), boas perspetivas de carreira (sobretudo na Administração Pública), um quadro fiscal mais competitivo, acesso a habitação condigna e uma transição digital plena.
*Reitor da Universidade do Porto