Qualquer plano tem que ter um fim a atingir. O objetivo principal do plano de desconfinamento nacional é o de manter uma baixa incidência de casos de covid. Será que vale a pena?
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Para responder a esta pergunta, convém começar por sintetizar a situação atual. A incidência está próxima dos 70 casos por 100 mil habitantes a 14 dias, um valor baixo. O Rt tem-se mantido próximo de 1 na última semana, até ligeiramente abaixo, pelo que há uma estabilização nos novos casos. A testagem bateu recordes esta semana, colocando a positividade semanal em 1%, novo mínimo desde o início da pandemia. Os internamentos continuam a tendência de descida, com consequente alívio da pressão hospitalar. O ritmo da vacinação está a aumentar, tendo 20% da população tomado pelo menos uma dose e mais de 90% no caso dos idosos acima dos 80 anos. Apesar de um contexto de circulação dominante da variante inglesa, mais transmissível do que as anteriores, o objetivo do plano está até agora a ser cumprido de forma sustentável.
Cada etapa de reabertura acarreta riscos, gradualmente mais comportáveis à medida que a cobertura vacinal aumenta, mas também atenuados pelo cumprimento de regras e por uma política proativa de testagem e rastreio, com o contributo essencial das autarquias e unidades de saúde pública. Manter a baixa incidência garante que haja menos gente afetada pela doença e suas sequelas, reduzindo as listas de espera hospitalares e minorando o impacto de novas variantes. O facto de a Alemanha ter incluído o Algarve e os Açores na lista de zonas de risco devido a uma subida momentânea dos casos nestas regiões é também algo a ter em conta. Por uma questão de saúde pública e por pragmatismo, acredito que o objetivo permanece válido.
*Professor de Matemática da FCUP