Apesar de a incidência ser um dos principais indicadores utilizados para acompanhar a evolução da situação pandémica, por vezes existem dúvidas legítimas relativamente à forma como é obtido, algo que importa clarificar.
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A incidência que tem sido habitualmente adotada no país, nomeadamente na matriz de risco, consiste dos novos casos acumulados num período de 14 dias a dividir pelo número de habitantes, expresso em centenas de milhares. A informação que dá está centrada sete dias antes do último dia do período considerado.
O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) publica às quintas-feiras um relatório com as incidências nos países europeus. O último valor divulgado para Portugal foi de 55,5, obtido com base nos boletins diários da DGS, ao longo dos 14 dias terminados no domingo, 4/4. A comparação entre países é facilitada por ser seguida uma metodologia comum. No entanto, esta incidência tem a desvantagem de ser suscetível a irregularidades de reporte, como aconteceu na Páscoa. Facilmente se percebe que o valor de 55,5 é uma subestimativa, tendo em conta que a incidência a dia 1/4 era de 60,6 e a 6/4, tinha regressado a este mesmo valor.
Por outro lado, a DGS divulga uma incidência baseada na curva epidémica estimada pelo INSA, cujo último valor divulgado é de 65,7, calculada a 4/4, tal como pelo ECDC. A opção do INSA tem vantagens por se basear na data de início de sintomas: corrige irregularidades como a da Páscoa e fornece informação mais recente do que a do ECDC devido à demora de cerca de três dias entre início de sintomas e data de confirmação. Mesmo que se considerasse a incidência com base nos boletins até à última data disponível, 8/4, ela apenas adiantaria um dia relativamente à do INSA, mas com possível perda de qualidade.
Relativamente à data central de contágio a que diz respeito, a informação da incidência tem um desfasamento de cerca de 17 dias, cinco dias a mais do que o do Rt. Este é o motivo pelo qual a matriz de risco funciona como retrovisor.
*Professor de Matemática da FCUP