Eu gosto é da economia de verão
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A época do verão – entre outras – tende a provocar dinâmicas de preços que merecem a nossa atenção. Segundo a visão neoclássica da economia, o preço de um bem reflete o equilíbrio entre a utilidade que a última unidade consumida confere ao cliente (utilidade marginal) e o custo adicional de produzir essa mesma unidade adicional (custo marginal de produção). A formação de preços de acordo com esta perspetiva assenta, contudo, em várias hipóteses: 1.ª existência de um elevado número de produtores e consumidores; 2.ª homogeneidade do produto; 3.ª informação perfeita; e 4.ª ausência de barreiras à entrada ou saída do mercado. É fácil perceber que, na realidade, estes pressupostos raramente se verificam. Isto confere às empresas poder de mercado, permitindo-lhes fixar um preço acima daquele que vigoraria num cenário de concorrência perfeita e auferir um lucro supranormal.
Tendo estabelecido este enquadramento, voltemos à análise da época de verão. Esta é tipicamente associada ao calor, à interrupção de muitas atividades económicas e às férias escolares – uma oportunidade rara para as famílias partilharem tempo de qualidade. Assim, é natural que a disposição para pagar por uma experiência de férias seja maior nesta altura. Além disso, podemos considerar que existe – devido a barreiras como o idioma, limitações à mobilidade ou disparidades no poder de compra, ainda que cada vez menores – uma proteção dos mercados nacionais inerente aos serviços. Depois, devemos também considerar que a procura varia geograficamente. Por exemplo, existe uma maior procura por férias neste período em Faro do que na Covilhã, sobretudo pela proximidade do mar, mas também porque dispõe de uma vasta oferta de outros locais onde as pessoas podem refrescar-se e relaxar. Logo, o produto turístico não é homogéneo, mesmo dentro de uma região. Jantar à beira-mar não equivale à experiência de jantar numa cidade costeira entre prédios. A experiência também será completamente diferente consoante a maior ou menor especialização do pessoal, quer de cozinha, quer de serviço. De forma semelhante, estar alojado num complexo que oferece atividades lúdicas não equivale a alugar um quarto.
Esta é apenas uma perspetiva que poderá entreter o leitor durante os próximos meses, ajudando-o a interpretar os fenómenos económicos que inevitavelmente observará. Se for o seu caso, boas férias!