Minha querida reflexão de agosto
Longe de uma ciência de números, a Economia é frequentemente definida como a ciência das escolhas perante a escassez de recursos. Mesmo quando parece que não, há escassez. No limite, de tempo.
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Em anos recentes, o turismo viveu o seu período de boom e democratização. Contudo, os problemas da sua massificação tornaram-se centrais do debate público. Conforme destaca uma recente publicação da Direção-Geral da Mobilidade e dos Transportes da Comissão Europeia, a concentração de turistas pode impactar as cidades, os seus marcos e paisagens.
Em Economia, classificamos os bens de acordo com as suas caraterísticas de rivalidade (isto é, o seu consumo por uma pessoa diminui a disponibilidade ou qualidade usufruída pelas demais?) e exclusividade (isto é, é realisticamente possível impedir que alguém o consuma?): bens não rivais e não exclusivos são bens públicos; bens rivais e exclusivos, bens económicos.
Tomemos o exemplo de uma famosa praça. Pensada para a comunidade local, é um bem público. Um turista visitá-la não prejudica o usufruto das pessoas em seu redor. Agora imagine um aumento substancial do número de visitantes daquele espaço. Para os locais, a praça deixa de funcionar como zona de convívio ou de passagem. Para os turistas, a experiência da sua visita degrada-se. Esta aglomeração torna esta praça um bem comum (rival e não exclusivo). Por sua vez, isto convida à implementação de mecanismos de gestão que frequentemente induzem alguma forma de exclusão. O bem torna-se, assim, privado ou, na melhor das hipóteses, um bem clube (não rival e exclusivo).
O turismo não impacta apenas a vivência quotidiana dos espaços, mas também coloca pressão sobre o património histórico. A sua conservação é um objetivo recente da Humanidade, que se intensificou nas últimas décadas. Esta escolha implicou limitar o acesso a bens outrora públicos, entre outros, para desacelerar a sua degradação. Contudo, essa transformação molda a própria experiência. Barreiras físicas, restrições de acesso, medidas de segurança ou adaptações funcionais - como zonas vedadas ao público ou estruturas de proteção - também tornam a fruição destes espaços diferente da idealizada. Escolhemos que a vivência destes locais seja adulterada em favor do cumprimento de exigências e objetivos modernos, da sua continuidade e possibilidade de serem vivenciados por gerações vindouras. Aqui, também, se revela a natureza da Economia como ciência das escolhas: equilibrando a fruição presente com a futura.