Pode o preço da nostalgia ser “calculado” através dos mercados secundários?
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Começo este texto com uma pergunta: que objeto comercializável o transporta para a sua infância ou juventude e que gostaria de possuir novamente? Com base na minha experiência, as respostas mais comuns incluem o primeiro carro ou mota, um veículo usado pela família na infância ou um modelo cuja publicidade marcou a memória.
No meu caso, escolheria entre conjuntos da LEGO ou artigos da franquia Pokémon dos inícios dos anos 2000, provavelmente privilegiando os últimos. A evidência sugere que não sou o único a valorizar estes dois grupos. Por um lado, a LEGO parece ter evoluído com os seus clientes e com o seu público, aparentemente posicionando os seus artigos menos como um simples brinquedo ou modelos vocacionados para o entretenimento das crianças e mais como artigos de coleção que desafiam a criatividade de um público já maduro.
Por outro lado, tenho mais dificuldade em identificar uma grande mudança estrutural no posicionamento da franquia Pokémon, mas parece-me que o facto das cartas comercializadas terem passado a ser vistas maioritariamente como artigo de coleção, em vez de cartas meramente pensadas para um jogo, reforça esta perceção. Em qualquer caso, o mercado secundário para estes grupos de artigos parece, em anos recentes, ter passado por elevado aquecimento. Prosperam, sobretudo nos nossos feeds de redes sociais, negócios associados a este fenómeno, que aproveitam a escala que estes meios lhes conferem.
Várias lojas operam de forma completamente digital, vendendo estes artigos para todo o Mundo e a dimensão dos seus inventários é impressionante. Também neste meio, prosperam agentes que colecionam artigos que estejam atualmente a ser comercializados através dos canais oficiais para daqui a uns anos revendê-los a um preço superior. Esse fenómeno atingiu o seu pico no pós-pandemia, com cartas Pokémon a chegarem a valores na ordem das centenas de milhares – e, pelo menos num caso envolvendo uma excêntrica personalidade digital, milhões – de dólares. Note-se que este período coincidiu com as celebrações do vigésimo quinto aniversário da franquia e com a distribuição de estímulos como resposta ao abrandamento económico.
Apesar de óbvia a natureza especulativa deste fenómeno, é fascinante como o valor que atribuímos a certos objetos pode transformar simples lembranças em ativos valiosos. Quem sabe quantas pequenas fortunas estarão esquecidas nas nossas gavetas e garagens? Talvez o valor da nostalgia seja mais tangível do que imaginamos.