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Parece um assunto menor, mas a paixão define o que somos, o modo como desejamos, odiamos e tememos. Cada pessoa é um livro por abrir, reage imprevisivelmente em situações limite. A paixão, escrevi. A mais poderosa energia e a mais forte “pedrada” quando é arrebatamento não correspondido.
Tudo para chegar a João Félix que, neste domingo, marcou um golo. Só não sei se na própria baliza, mas não há a mínima dúvida de que a bola entrou sem defesa possível. Mais do que a possibilidade de regressar ao futebol português, mais até do que o sofrimento de vermos uma genialidade não cumprida, impressionou-me a coragem de se pôr no avião para ver a Fórmula 1 em Inglaterra… logo em Inglaterra.
João pode delirar com motores e chassis, não o discuto. Pode inclusivamente ter combinado beber um chá das cinco com o amor de toda a juventude, mas é difícil não ver esta ida às corridas como uma declaração a Margarida Corceiro, atual namorada de Lando Norris, estrela inglesa da Fórmula 1. É um tema sério, não o desvalorizemos. No limite, poderá abrir um conflito só comparável à magna questão do Mapa Cor-de-Rosa que, no final do século XIX, quase estragava a aliança mais permanente da nossa história.
Por mim, estou por ele. E por ela. Margarida não poderá esquecer este ato heroico e corajoso de João. Ir às corridas e fazê-lo assim, de coração aberto e no campo do rival. Só temo que Félix, quando confessou precisar de voltar a casa, não estivesse a falar do Benfica. Logo veremos. Quanto à corrida, Norris ganhou e saltou do carro como se fosse Deus. Pode ser que se lixe.