Após o anúncio quanto à composição do XXIII Governo, um dos nomes que deixaram mais surpresa no ar foi a indicação de Pedro Adão e Silva para a pasta da Cultura.
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O setor reagiu pedindo a resolução dos problemas que enfrenta há anos e que se agravaram com a crise sanitária. Apelou ainda a que o futuro ministro tenha vontade política para resolver e que a Cultura não continue a ser considerada um parente pobre pelo Governo.
No seguimento da indicação de Pedro Adão e Silva, rapidamente circulou uma frase do ministro, que remonta a 2016, onde refere que não gostaria de viver num país sem touradas. Ora, esta ideia reflete uma visão antropocêntrica de que a tradição é tradição e de que, por isso, as políticas públicas têm de ficar, tal como estão, agarradas ao maltrato animal. Representa uma visão retrógrada e conservadora, sobretudo se implícito estiver o entendimento de que o Estado deve continuar a validar e a legitimar atos violentos que já deveriam ter ficado imortalizados no tempo. Conduz-nos ainda ao facto de o próprio Estado continuar a financiar estas práticas com oferta de bilhetes, de viagens, na contratação deste tipo de atividades promotoras de violência e de crueldade, apoios que ascendem a cerca de 16 milhões de euros por ano. Isto, quando o setor da Cultura lida com falta de respostas estruturais.
Foi em 1991 que, pela mão de Aníbal Cavaco Silva, à época primeiro-ministro, as touradas transitaram para a esfera da Cultura. É claro que não seria Cavaco Silva a assumir que o único lugar da cultura onde as atividades tauromáquicas deveriam ter lugar seria o passado refletido num museu! No Porto, por exemplo, existiram várias praças de touros, mas virou-se as costas a esta tradição - e bem! -, no início do século XX, com a implantação da 1.ª República por se considerar que se tratava de uma diversão que já não era própria da época, que lembrava o passado ao qual não se queria voltar. Assim venha a ser para todo o país.
*Dirigente do PAN