Começámos por lhe chamar fenómeno mas, espalhado como um vírus, já infetou tantos regimes democráticos que começa a ser encarado com normalidade, o que confere ainda maior gravidade a um problema da política atual - o aparecimento de líderes populistas.
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Quase sempre suportados em ideais caducos e muito queridos da Direita ortodoxa, ganharam expressão mundial com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, nos Estados Unidos da América. Entretanto, na mesma linha, o povo brasileiro elegeu Jair Bolsonaro, e os britânicos, mais recentemente, entregaram a Boris Johnson os comandos da Grã-Bretanha.
Não foi preciso esperar muito para se perceber a total impreparação destas figuras cativadoras de massas para a governação.
A crise global provocada pela Covid-19 funcionou como gatilho para agitar uma peneira que deixou isolados os três líderes. Todos conheciam o que se passou na China, o drama aterrador vivido em Itália e a expansão inevitável e galopante rumo às Américas. No entanto, nem assim Trump, Bolsonaro e Johnson deixaram de atuar a contraciclo. O norte-americano, que continua a catalogar a doença de forma xenófoba, começou por ignorar, afirmando a grandeza da América e perdendo tempo precioso para, mais tarde, avançar com medidas duras e expor-se ao ridículo de, como magnata habituado a comprar este Mundo e o outro, tentar adquirir a vacina em exclusivo para o seu país. Mais abaixo, no Brasil, já os noticiários avançavam os primeiros casos e ainda Bolsonaro se pavoneava pelas ruas, no meio do povo, desdobrando-se em apertos de mão e abraços. Sem ter, desta vez, piada nenhuma, o nonsense britânico permitiu a Johnson enveredar por um caminho absurdo na batalha contra o novo coronavírus, decisão entretanto invertida, mas que custará milhares de vidas em território britânico.
À primeira grande ameaça, nenhum reagiu como se impunha. Outros governantes falharam na avaliação, mas nunca com a fanfarronice destes três expoentes máximos do populismo. Antes de serem eleitos, é curioso, todos os temiam. E a Comunicação Social fez bem o seu papel, explicando o que estava em causa. Mas ganharam eleições, estão legitimados. Provavelmente, se as pessoas consumissem informação credível em vez de debitarem opinião a partir do que leem nas redes sociais, talvez Trump, Bolsonaro e Johnson não tivessem sido guindados ao poder. Com o Mundo de quarentena, se calhar, esta é uma boa oportunidade para mudarmos os hábitos e sermos criteriosos nas escolhas enquanto consumidores de notícias.
Editor-executivo