A guerra na Ucrânia projetou um êxodo como não se via na Europa desde a II Guerra Mundial. Contam-se já mais de 10 milhões de deslocados ucranianos, acolhidos sobretudo em território europeu, numa onda solidária sem precedentes, à qual os portugueses se associaram.
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A falta de organização, como se lia na edição de ontem do "Jornal de Notícias" - a dimensão da emergência não justifica tudo -, levanta preocupações novas, com o perigo do tráfico de pessoas, e uma questão importante que terá resposta num futuro mais próximo do que imaginamos. Trata-se de perceber até onde vai a nossa solidariedade, qual será a fronteira para aguentar os estilhaços da guerra que se espalham um pouco por todo o Mundo? Porque o movimento solidário tem diferentes níveis e aplicações, entre estes o agravamento do custo dos bens de primeira necessidade, como a energia.
Seremos capazes de aguentar o preço a pagar - o contrário seria pactuar com uma agressão intolerável a um país livre -, ou vamos a curto prazo perder a paciência, à medida que formos sentindo menos dinheiro no bolso?
De uma coisa podemos ter a certeza: por mais que Joe Biden a defenda, uma mudança de protagonistas na Rússia não acontecerá tão cedo. Apesar da condenação às palavras do presidente dos Estados Unidos, creio que a generalidade dos líderes mundiais nunca esteve tão de acordo com ele, refugiando-se na hipocrisia diplomática. Putin, não sendo o único, está claramente a mais. Declarações de faca nos dentes, por outro lado, também não ajudarão a criar um clima favorável às negociações. Mas parece-me óbvio que não faltará, entre os senhores do Mundo, quem se sente à mesa com o presidente russo cheio de vontade de fazer como Will Smith, na cerimónia dos Oscars. E há motivos de sobra para isso. Já no caso do ator, tratou-se de um episódio lamentável.
*Chefe de Redação