Recebi há dias fotografias do arboricídio do pinhal de Aldoar e de mensagens que uma criança, perante aquele cenário, deixou nas árvores abatidas: "Não cortem o minipulmão de Aldoar". Contava o pai que, durante o confinamento, este pequeno bosque foi um refúgio para o filho e para a família, evidenciando a importância dos espaços verdes de proximidade e do crescente défice de natureza.
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Esta criança deu-me esperança face aos valores que a nortearam nesta atitude, alertando para a forma como as decisões políticas hipotecam as atuais e futuras gerações. Mas Aldoar está longe de ser um caso único. Chegou-me um outro texto intitulado "As árvores na Régua também choram", ou fotografias de podas abusivas na igreja de Matosinhos ou ainda um sem-número de casos de podas de rolagem em Gaia. Todas as decisões unilaterais sem qualquer respeito pelos cidadãos ou cidadãs.
Estes ataques às árvores urbanas prejudicam as características das espécies, enfraquecem e desequilibram as árvores, podendo agravar o risco de queda e de prejuízos pessoais e materiais. Aparentemente, os autarcas assumem apenas no papel a função das árvores no combate às alterações climáticas porque, no momento de decisão, as árvores são o elo mais frágil e logo esquecem o seu papel de sumidouros de carbono, na criação de sombras e de suavização das temperaturas. Tomam-se decisões como se nada estivesse interconectado, hipotecando, assim, o presente e o futuro.
Num país em que vale tudo no que respeita ao abate do arvoredo urbano, em que se vão despindo as cidades de árvores, reina uma grave lacuna legislativa. Urge a criação de um regime jurídico que proteja o arvoredo urbano de podas abusivas e do abate indiscriminado, uma discussão agendada para a próxima semana no Parlamento. Saberemos, então, quem de facto compreendeu a canção que nos ensinaram na escola - "uma árvore, um amigo" - mas, sobretudo, quem consegue pensar a longo prazo e ir mais além do que as selfies nas habituais plantações no Dia Mundial da Árvore, esquecendo-as todos os outros dias.
Deputada do PAN