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A necessidade de combater a perceção de insegurança, missão que o Governo abraçou, é inatacável, porque não faz sentido que os cidadãos de um dos países mais seguros do Mundo se sintam inseguros. Mas a identificação de um problema desencadeou ações que não poderiam ter sido mais toscas. Aparentemente cedendo à pressão populista, a ofensiva policial voltou a privilegiar núcleos da comunidade imigrante. Duvido que algum português se sinta mais confortável depois do triste episódio securitário do Martim Moniz a que o país assistiu na passada quinta-feira, uma linha vergonhosa de pessoas, sobre as quais não pendia qualquer acusação, de costas voltadas para a rua e braços erguidos contra as paredes. As reações políticas não tardaram. Umas mais importantes do que outras, destaco a do primeiro-ministro, que se mostrou muito satisfeito, ignorando que a estratégia usada para combater uma perceção errada tem como resultado gerar outra ainda mais injusta. Porque o problema reside na falta de informação e de formação. Neste país seguro, quem não estiver bem informado por certo acreditará, ao ver aquele espetáculo policial indigno em democracia, que a culpa é dos migrantes. O contexto global de contestação crescente às comunidades estrangeiras justificaria outro cuidado, sobretudo num país que não conseguirá crescer sem recrutamento de mão de obra no exterior. Operações como aquela, além de não deixarem ninguém descansado, servem apenas para alimentar o fogo da intolerância. E, eventualmente, captar a simpatia dos eleitores do Chega: quem mantém “não é não” caça com migrantes.