Passámos os últimos meses a ler e a ouvir que o SARS-CoV2 é um vírus democrático, que a todos pode atingir, independentemente da condição social. Nenhuma novidade.
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Acredito que esta máxima se aplica a todas as maleitas, mas a própria organização das sociedades acrescenta variantes que distribuem a taxa de incidência de uma doença em função de fatores económicos, por exemplo. Compete aos governos e às entidades que tutelam garantir que todos os cidadãos estão em situação de igualdade quando são confrontados com doenças. Em Portugal, parece não acontecer assim.
Na terça-feira ficámos a saber que Cristiano Ronaldo tinha contraído o vírus, mantendo-se assintomático. Aparentemente, nada a dizer em relação à viagem rumo a Itália, tendo sido seguido, segundo a responsável máxima da Direção-Geral da Saúde (DGS), Graça Freitas, o protocolo aplicado a todos os outros emigrantes. Falta explicar por que razão não foi seguido o protocolo aplicado a todos os outros portugueses em relação aos contactos de risco. Segundo a norma 15 da DGS, uma pessoa que tenha estado a dois metros de alguém infetado, num espaço fechado, durante mais de 15 minutos, deve remeter-se a isolamento de 14 dias.
Não sendo conhecida comunicação em contrário, esta determinação devia aplicar-se a todos, o que remete para uma fotografia partilhada por Ronaldo, no início da semana, nas redes sociais, onde se vê os jogadores da seleção sentados à mesa, sem qualquer preocupação com o distanciamento. A imagem, que correu mundo, é surpreendente. Desde logo, porque, atendendo às instalações de excelência que a Federação possui, fica difícil explicar tanta gente acotovelada. Um mau exemplo, sobretudo numa altura em que procuramos incutir na sociedade a necessidade de distanciamento. A coberto de um procedimento especial a que estão sujeitos apenas os jogadores integrados em plantéis, nenhum deles entrou em isolamento, permitindo concluir uma de duas coisas, a primeira genial e a segunda vergonhosa: ou foi descoberta a figura clínica da imunidade de plantel, ou há portugueses de primeira e de segunda.
Editor-executivo