O Governo lançou, no passado recente, um conjunto de incentivos à contratação de doutorados pelas PME. Estes apoios não conheceram, ao que se sabe, a adesão esperada, talvez porque não fossem suficientemente atrativos para as empresas ou porque estas não tinham condições para rentabilizar o capital humano.
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Portugal continua, por isso, a ser um dos países europeus com menos doutorados a trabalhar nas empresas. Isto numa altura em que, por um lado, o país produz anualmente cerca de 3000 doutorados e, por outro, o nosso tecido empresarial está, ou devia estar, num processo de incorporação de conhecimento, tecnologia e talento.
É paradoxal este divórcio entre empresas e doutorados. Está em curso a transição digital do tecido produtivo e, além disso, parece evidente que, para serem competitivas na economia do conhecimento, as PME têm de investir mais em investigação, desenvolvimento e inovação. Ora, esse investimento exige recursos humanos com competências especializadas, que sejam capazes de transformar conhecimento em produtos e serviços diferenciados.
Devemos, pois, não só reforçar os incentivos à contratação de doutorados pelas PME, como também financiar projetos de I&D+i que permitam a conclusão de doutoramentos em contexto empresarial. Desta forma, as empresas ganham massa crítica para desenvolver novos processos, tecnologias, produtos ou serviços, tornando-se assim potencialmente mais competitivas.
Devidamente enquadrados, os doutorados deixam de ser corpos estranhos nas PME e o seu papel na dinâmica empresarial acabará por ser valorizado. A criação de hábitos e rotinas de colaboração levará as empresas a interiorizarem o valor que os doutorados podem ter nas suas atividades.
Reitor da Universidade do Porto