Corpo do artigo
O ano que agora termina está a ser terrível para os jornalistas. As dificuldades de financiamento que conduzem ao fecho de empresas de comunicação social e os baixos salários fazem do jornalismo uma profissão para resistentes, mas nada é pior do que a subtração de vidas. As mortes em serviço no ano de 2024 ultrapassam a centena, sendo que mais de metade aconteceram em Gaza, na Palestina, as últimas cinco na semana passada, vítimas da “limpeza técnica” - as palavras são do secretário-geral da ONU, António Guterres - em curso naquela região, comandada por Benjamin Netanyahu.
O facto de grandes potências, como Rússia e China, manterem jornalistas em cativeiro é sintomático em relação aos riscos que a missão de informar pode acarretar, mas a cruzada contra a verdade não se resume às situações que envolvem perigo físico. Se no século passado a censura foi a arma de controlo mais usada pelos ditadores, nos tempos em que vivemos, os plutocratas, legitimados pelo voto, têm como estratégia minar a credibilidade da informação verificada para construir realidades alternativas, sobretudo através das redes sociais.
O objetivo é o mesmo: validar, através da difusão de notícias falsas, políticas que violam os valores mais nobres do estado de direito. Os jornalistas têm também uma dose de culpa, porque nos habituámos a dar eco dessas declarações, às vezes sem a devida verificação. Mas o que fazer quando um ministro usa as redes para comunicar? Ignorar não é solução. Provavelmente, o melhor seria legislar no sentido de os políticos serem obrigados a privilegiar as agências e meios tradicionais. Porque, no limite, além do jornalismo, são as democracias que estão em risco.